Poesia do Mês

sexta-feira, 1 de janeiro de 2016



Poesia de Caio Fernando Abreu


Ninguém saberá da secura de nossos olhos

(20 de dezembro de 1975)

Ninguém saberá da secura de nossos olhos
da dureza de nossa boca ninguém saberá
do fio das unhas da dor no dente
do sangue guardado no fundo da gaveta

ninguém adivinhará os jardins atrás do muro fechado
ninguém quebrará o ferro do portão
ninguém violentará o secreto
ninguém te tocará profundamente
ninguém te saberá
ninguém.

Por isso olhamos as nuvens
sentados ao vento que não sopra
enquanto os balanços rangem
os rádios cantam
e a rua intocável como um quadro
pintado por outro.

Por isso olhamos em volta
e o que se passa além de nossa (uma palavra ilegível)
não nos soluciona
(ninguém sabe
ninguém saberá).

O caule quebrado do girassol
o livro de Toynbee sobre os degraus
a caneta riscando o papel
as nuvens
a tarde
a rua

o medo.

Caio Fernando Abreu


Poesia retirado do site: http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/literatura/poesia-caio-fernando-abreu.htm

4 comentários:

  1. Oi Dani!
    Que poema incrível!!! Não conhecia ainda, mas adorei.

    Feliz 2016!
    Beijos,
    Sora - Meu Jardim de Livros

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Feliz 2016 para você também Sora \o
      Que possamos fazer boas leituras esse ano *-*
      Beijos.

      Excluir
  2. Que poema mais lindo <3 amei!
    http://ginabero.blogspot.com.br beijos Gi

    ResponderExcluir